terça-feira, 29 de setembro de 2009

terça-feira, 29 de setembro de 2009
Uma espiral de violência ameaça incendiar o sul do Sudão
18 de Setembro de 2009 às 18h 00m
Jean-Philippe Rémy Em Johannesburgo (África do Sul)

Longe dos olhos, longe de Darfur, uma espiral de violência ameaça tomar o sul do Sudão e reacender a guerra civil sudanesa, interrompida com muito custo em 2005. Vários dias foram necessários para que circulassem informações confiáveis sobre o massacre ocorrido em Jonglei (um dos dez Estados da região semi-autônoma do Sul), o último de uma longa lista que começou no início do ano.

Sudanês exibe crânios humanos em Mukjar, no Sudão.
Violência tem aumentado no sul do país.

Na segunda-feira (31), esses detalhes diziam respeito a um ataque ocorrido na região isolada de Twic, onde homens armados do grupo étnico dos Dinka Bor atacaram, na sexta-feira, um vilarejo habitado por um grupo rival, os Lou Nuer. O objetivo era roubar gado, utilizando a força sem restrição. A ofensiva fez 46 mortos. Os agressores, segundo testemunhos recolhidos pela ONU, estavam equipados de uniformes e armamentos novos.
Em fevereiro, um ciclo de ataques sangrentos e de vendetas começou da mesma forma, perto da fronteira etíope. Em um mês, mais de 700 pessoas foram mortas. Nesse caso, eram grupos rivais que se enfrentavam, os Murle e os Lou Nuer. Não era a diferença étnica que motivava a escalada da violência, mas conflitos relacionados ao gado, à água e aos direitos de pastagem.
Além disso, começou a brotar a suspeita de que esses ataques pudessem estar sendo instrumentalizados, uma vez que outros confrontos se iniciavam em outras zonas do Sul, como em Malakal. "Alguns desses combates étnicos são comuns, mas eles nunca foram tão mortíferos assim, e conduzidos com armas modernas", ressaltava Salva Kiir, o presidente do governo semi-autônomo do sul do Sudão. "As mulheres e as crianças, que sempre foram poupados em combates tribais, agora estão sendo mortos", ele acrescentou com consternação.
Outros dirigentes do Sul mencionaram, mais diretamente, a possibilidade de que certos chefes de guerra sulistas, dos quais alguns combateram do lado do Norte durante a segunda guerra civil (1983-2005), estariam tentando mergulhar o Sul no caos para retardar, ou evitar, a realização em 2011 de um referendo que oferecerá aos sulistas a possibilidade de se separar de Cartum, e de conservar para si os recursos petrolíferos da região.

A acusação não foi acompanhada de provas. No seio do poder, em Cartum, nega-se veementemente. E os ataques continuam. Ainda em Jonglei, um ataque a Akobo, dia 4 de agosto, fez 185 mortos, entre os quais 12 soldados do exército sulista. A maioria das vítimas era de mulheres e crianças. Desde o início do ano, a ONU avalia que esses ataques fizeram 2 mil mortos e provocaram o deslocamento de 250 mil pessoas, enquanto o ciclo de represálias saiu de controle. Um número corroborado pelo major-general Gier Chuang Aluong, o ministro do Interior do governo do sul do Sudão, que no final de agosto fez o balanço das violências: 1.863 pessoas mortas, 341 feridas e, detalhe que passou desapercebido até agora, 604 crianças sequestradas.
A segunda guerra civil entre o Sul e o Norte durou 22 anos e fez cerca de 2 milhões de vítimas antes de terminar, em janeiro de 2005, pela assinatura de um acordo de paz completo (CPA). No último período das negociações estourou outro conflito em Darfur (oeste do Sudão), que logo eclipsaria as questões cruciais das relações entre Norte e Sul.
Desde então, o Sul é administrado por seu próprio governo e construiu seu próprio exército sobre as bases da antiga rebelião, uma vez que Cartum também parece se preparar para a eventualidade de uma retomada da guerra. O acordo de paz prevê a realização de eleições gerais, que deverão acontecer em abril de 2010, e depois um referendo de autodeterminação, no início de 2011, que possibilitará aos habitantes do Sul que continuem atrelados à parte norte do país, ou que façam a secessão.
Por enquanto, o surto de violência ressalta a dificuldade das autoridades do sul do Sudão em impor sua autoridade. A organização Human Rights Watch estabeleceu que Akobo só tinha 90 policiais para uma região tão extensa quanto a Suíça e a Áustria juntas.
Tradução: Lana Lim
Fonte: Jornal Le Monde - http://diplo.uol.com.br/
Postado por Alina Fialho e Jamille Giffoni

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